Querido [A]migo,
Parece que bastou eu resolver começar a te escrever pra coisas acontecerem na minha vida. Ontem tive uma franca conversa com uma de minhas irmãs, ela sofre, como eu sofri, como minha outra irmã sofre também, ser adolescente não é uma parte muito memorável da vida, e a transição da adolescência pra vida adulta também não é muito fácil. O mais cômico dessa história toda é que me peguei aconselhando minha irmã com da mesma forma que me aconselharam quando tinha a idade dela, e eu odiava.
Falei pra ela do filme - As vantagens de ser invisível - também, na verdade eu dei um jeito de falar desse filme para todas as pessoas com que eu interagi ontem, rs. O que posso fazer, quando eu gosto, eu realmente gosto! Mas o ponto é que, conversando com ela sobre o filme eu pude dizer em alto em bom som conclusões que eu não me atrevia antes, e não sei se o que eu disse entrou na cabeça dela, se vai fazer alguma diferença na vida dela, mas com toda certeza, na minha fez.
Amigo, eu não estou disposta a aceitar migalhas como antes, eu não estou disposta a continuar me menosprezando, mesmo que sem a intenção e sempre com a mesma falsa postura de mulher independente. Os mesmos problemas que minha irmã passa hoje, eu passei um dia, e achei que havia há esse ponto da minha vida enterrado todo e qualquer sintoma de insegurança que me assombrava nos meus 15, 16 anos, mas no fim eu vi que lá no fundo eu ainda passo e assim, eu tenho que passar a seguir os meus próprios conselhos, os mesmos que eu ignorava quando tinha a idade dela.
Seria cômico se não fosse trágico, mas realmente a história se repete, e por mais que digamos que não cometeremos os mesmo erros de um dia, sempre o fazemos. Bom seria se conselhos fossem seguidos, porque hoje me vejo nos dilemas - que são praticamente o fim do mundo - da minha irmã, e eu não gostaria que ela cometesse os mesmos erros que eu, e que depois de alguns anos, ainda se pegasse tentando curar traumas que há muito deveriam ter se esvaído.
A verdade é que sempre queremos o melhor para quem amamos, e eu juro que faria qualquer coisa pra impedir minhas irmãs de sofrerem… mas eu sofri, e sobrevivi, e hoje sou uma pessoa melhor por causa de todos meus traumas juvenis. Então, o jeito é ficar aqui, aconselhar as paredes quando elas não querem ouvir, mas sempre apoiar, sempre estar perto e cuidar.
Em decorrência de tudo que aceitei hoje, de todas as conclusões que abriram minha mente, eu não deveria continuar a te escrever, mas ao mesmo tempo que você me deu migalhas um dia, eu te dei o meu melhor e fui de fato a melhor amiga que eu podia ser. Dessa forma, eu gosto de escrever para o melhor amigo que eu tive queria ter tido. E por enquanto isso me basta.
G.